São Paulo, 26/01/2016 - O apetite por milho no mercado interno está firme mesmo com a proximidade do primeiro leilão de produto dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), marcado para a próxima segunda-feira. A demanda dá suporte às cotações do cereal nas principais praças do Brasil. No Centro-Oeste, a percepção é de que o volume de 150 mil toneladas a ser ofertado é insuficiente para atender às necessidades de granjas e indústria de ração. Além disso, há uma preocupação de que o frete no período de carregamento dos lotes esteja acima dos valores atuais, o que encarecerá a operação. No Sul, que fez mais pressão pela oferta dos estoques reguladores, os preços se mantiveram em virtude de necessidades urgentes de abastecimento e do receio quanto aos efeitos do tempo seco sobre parte das lavouras de milho verão.
O feriado pelo aniversário da cidade de São Paulo nesta segunda-feira contribuiu para a lentidão nos negócios no Brasil devido às escassas referências de câmbio. Mesmo com as negociações concentradas no mercado interno, compradores ainda avaliam o preço em Chicago e o dólar para ajustar ou não as propostas.
Em Primavera do Leste (MT), a segunda-feira começou sem vendas concretizadas, segundo corretor da região, após terem rodado 15 mil toneladas de milho no disponível e 4 mil toneladas no futuro na semana passada. Os preços de referência são os mesmos do fim da semana passada, de R$ 30/saca para embarque e pagamento imediatos, e de R$ 22/saca para a safrinha 2016, para entrega em agosto e pagamento em setembro.
Os leilões de milho com edital publicado pela Conab até o momento não devem influenciar os preços internos, avaliou o corretor, pois o volume ofertado é pequeno em relação à demanda do mercado. "O governo federal deveria ter feito esses leilões já em janeiro, quando a demanda começou a se aquecer e os preços não estavam tão altos", disse. Outra questão é o frete. O leilão acontecerá no dia 1º de fevereiro e o pagamento à Conab no dia 10 do mesmo mês, com carregamento a partir do dia 15. "Só que em meados de fevereiro a colheita da safra de soja estará no auge e este milho vai entrar na disputa pelo frete", disse a fonte. Ainda assim, ele acredita que as 150 mil toneladas serão arrematadas.
No centro-sul do Paraná, os preços se mantiveram em R$ 39 a R$ 40/saca. Em Guarapuava rodaram na segunda-feira pelo menos 600 toneladas a R$ 40 por saca para retirada imediata e pagamento em 15 dias. Segundo o corretor Beto Xavier, da BetoAgro, a colheita de milho ainda é incipiente na região, e os poucos produtores que têm lotes formados negociam para "aproveitar o preço". Mesmo após o anúncio dos leilões, os preços ficaram estáveis, segundo Xavier, porque a percepção do mercado é de que o milho adquirido dos estoques da Conab ainda deve demorar para chegar até as fábricas. "Quem está comprando é por necessidade mais urgente e não vai esperar leilão. Indústrias adquirem milho para o consumo do dia." Havia ontem produtores pedindo inclusive R$ 42/saca, mas indústrias não chegavam a esse valor.
Na avaliação do corretor, nesta semana o milho deve se manter acima de R$ 35/saca, podendo chegar a R$ 40/saca, a depender do apetite de compradores. Entretanto, se novos leilões forem confirmados para logo depois do carnaval, quando a maioria dos produtores estará colhendo o cereal, o mercado pode esfriar. "O preço pode se estabilizar em R$ 35 e lá na frente voltar a subir", disse, lembrando da menor área plantada na primeira safra. No Porto de Paranaguá, era possível fechar acordos no spot a R$ 45/saca, mas vendedores de Guarapuava têm dado preferência para o mercado interno.
No Rio Grande do Sul, o anúncio do leilão tampouco afetou os preços. A demanda continuou firme e os preços também. Havia nesta segunda-feira registro de negócios de 300 a 600 toneladas na região de Seberi e Palmeira das Missões, que estão no pico da colheita. Na região de Passo Fundo, onde os trabalhos não começaram e os silos estão quase vazios, as propostas no spot eram de R$ 36 a R$ 37 por saca para retirada em propriedades da região e R$ 38 por saca posto em Marau, valores também estáveis em relação a sexta-feira. As cotações nas principais praças gaúchas se mantiveram por causa dos temores sobre o clima, apesar do anúncio dos leilões. "Essa notícia ainda não se traduziu em queda de preço", apontou o corretor Claiton dos Santos, da TS Corretora. "Faz 15 dias que não chove em uma região de lavouras mais tardias, de Lagoa Vermelha e Vacaria, e a estiagem tem preocupado. Nessas áreas, ainda não está garantida a colheita." Além disso, algumas cooperativas cumpriam neste momento contratos de exportação fechados a R$ 44/saca para entrega em Imbituba e Paranaguá e se mantinham fora do mercado.
Entretanto, as chuvas na fronteira oeste, que podem se estender às áreas de menor umidade, tendem a pressionar as cotações. Ainda assim, vendedores buscam negociar a R$ 40/saca. "Concluídas as exportações, a tendência é cair em outra realidade, mas produtor acredita que, se o clima prejudicar o fim de ciclo das lavouras, o preço ainda pode subir", disse a fonte.
A questão envolvendo o abastecimento de milho continua preocupando o setor produtivo. Ontem, a Associação Catarinense de Avicultura (Acav) disse que o setor terá "um crescimento modesto e resultados menores" em 2016 devido à alta dos preços do cereal. Segundo a entidade, o ano começou com cotações de grãos "insuportáveis" para o segmento, 50% acima dos preços de outubro. Na avaliação do presidente da associação, José Antônio Ribas Júnior, a entrada da "safrinha" segurará as cotações, mas "neste patamar o setor projeta margens negativas para o ano".