O aumento da oferta de soja no mercado interno passa pela expansão das áreas de produção, disse ao AGROemDIA, neste domingo 11, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Antonio Galvan, ao comentar a intenção do presidente Jair Bolsonaro de conversar com os sojicultores para avaliar o que é possível fazer para ampliar o abastecimento doméstico da oleaginosa, a fim de conter a alta dos preços dos alimentos.
“Não vejo problema em sentar com o presidente [para conversar sobre o abastecimento de soja no mercado interno], especialmente por causa do apoio massivo que ele tem entre os produtores”, enfatizou Galvan. “Agora, a grande maioria dos produtores rurais não exporta. A gente vende para as empresas exportadoras. Como o mercado é soberano, é uma questão de fazer um ajuste de produção.”
Nesse sábado 10, Bolsonaro informou que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, está acertando uma reunião do governo com os grandes produtores de soja: “A gente não vai regular, interferir, tabelar. Isso não existe, é livre mercado. A Tereza Cristina está acertando um encontro com os grandes produtores de soja para a gente ver como fica essa questão, para atender o mercado interno.”
Segundo Galvan, é preciso reverter o atual cenário para aumentar as áreas de cultivo da soja. Hoje, pontuou, as próprias empresas que compram o grão estão trabalhando para engessar a produção. “Isso é um problema sério. Ele [presidente] tem que tomar providência para deixar que a agricultura se expanda. A única forma de poder ofertar o produto para regular o mercado é plantando mais.”
Produção engessada
De acordo com Galvan, tanto as tradings, via moratória da soja, como os bancos, frigoríficos e as próprias empresas exportadores, por meio do movimento Coalização Brasil, estão engessando a sojicultura. As duas iniciativas visam a inibir a compra do produto originário de áreas desmatadas da Amazônia e também há articulações para criar restrições à produção de novas áreas do cerrado.
Na opinião do presidente da Aprosoja, a Coalização Brasil, formada por grandes conglomerados financeiros, está tentando desestruturar o governo Bolsonaro com base na força econômica. “Eles estão tentando boicotar de todo jeito a produção nacional para encarecer a alimentação para a população e desgastar o governo, que não pode entrar na ciranda deles. É preciso reagir. E uma das primeiras coisas a fazer é exigir que eles respeitem a legislação brasileira e e a nossa soberania.”
Ele defendeu também o governo acabe com a articulação de frigoríficos, tradings e bancos para impor restrições à atividade agropecuária. “Tem que tirar o poder deles de querer analisar isso ou aquilo. Só quem pode analisar, interditar, bloquear ou fazer qualquer tipo de embargo são os órgãos oficiais. Então, precisa achar uma forma de punir eles, porque estão criando desabastecimento para aumentar preços para ver se o povo se volta contra o governo.”
Galvan classificou como “vergonhosa” a situação atual. “Isso é uma hipocrisia dessas empresas, especialmente as que dependem de nossa produção para própria sobrevivência, assim como nós dependemos delas. Afinal, todos dependemos do consumidor, que está demandando mais.”
Para o presidente da Aprosoja, é preciso ainda desburocratizar a atividade agrícola, principalmente no aspecto ambiental, para reverter o atual cenário. Além disso, acrescentou, os governos municipais, estaduais e federal devem investir mais em infraestrutura para melhorar o escoamento da produção.
“A única forma para regular o mercado – e ainda assim não se faz isso no curto prazo – é permitindo, e até incentivando, o aumento das áreas de produção. Aí, haverá mais oferta para a indústria e, consequentemente, para o consumidor”, reforçou Galvan. “Não vai ser numa conversa com produtores que você conseguirá resolver isso, porque nós não mandamos na exportação.”
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta 133,7 milhões de toneladas da soja na safra 2020/21. Do total, 85 milhões de t devem ser exportadas, conforme a Conab. A Ásia é o principal destino da oleaginosa brasileira, com maior parte dos embarques seguindo para a China.
Além do óleo de soja, o grão também é usado na fabricação de farelo destinado à alimentação de aves, bovinos, suínos e em peixes de cultivo. Por isso, a alta do preço do grão impacta não só o óleo, mas também as proteínas animais.
Com a pandemia de coronavírus, houve expressivo aumento da demanda por soja nos mercados mundial e interno. Com isso, o grão se valorizou ainda mais.
Fonte: Agroemdia.com.br