Mau humor começou com nota ácida da CNA e culminou com aprovação de pauta bomba na madrugada.
Nem o ministro da Agricultura Carlos Fávaro, nem qualquer outro articulador do governo previu a tempestade vinda do agronegócio— setor que, desde a campanha eleitoral, manteve-se distante de Lula, até o desfecho da votação no Congresso durante a madrugada.
A Frente Parlamentar da Agropecuária mostou sua força ao garantir 346 votos contra 93 (quase o quádruplo!) para permitir o uso de R$ 30 bilhões do fundo do pré-sal, originalmente destinado a programas sociais, no financiamento de crédito para produtores endividados.
Foi além: assumiu o protagonismo que a oposição, mesmo unida, não conseguiu exercer, e aprovou mudanças na legislação ambiental que impactam diretamente a proteção da Amazônia e o enfrentamento de eventos climáticos extremos.
Na quarta-feira decisiva (16), último dia de votações antes do recesso parlamentar, a pauta da Câmara somava 44 itens. A tarde trouxe reveses para o Planalto: em apenas quatro horas, o ministro Alexandre de Moraes validou o aumento do IOF e o presidente Lula vetou a criação de 18 novas cadeiras na Câmara, retirando o projeto das próprias mãos.
As duas derrotas inflamaram ânimos já tensos, diante do crescimento de Lula nas pesquisas, impulsionado pela retórica da soberania nacional — discurso turbinado após a promessa de Donald Trump de taxar produtos brasileiros em 50%.
Com a oposição bolsonarista enfraquecida nas redes e no plenário, deputados ligados ao agronegócio ocuparam o espaço.
O tom havia sido dado dois dias antes, em nota da Confederação Nacional da Agricultura, que acusou o governo de comprometer a inserção internacional do Brasil ao adotar pautas de “radicalismo ideológico” e alinhar-se a alianças contrárias aos interesses comerciais do país.
A crise se desenhava no horizonte, mas ninguém percebeu. Nem mesmo o vice-presidente Geraldo Alckmin, que passou três dias ouvindo, de diferentes setores do PIB, o temor de retaliações aos termos anunciados por Lula em resposta à medida de Trump.
Está fresco na memória do empresariado o exemplo da China, ainda quando Trump, em abril, inaugurou a estratégia de balançar os pilares da ordem financeira mundial.
O gigante asiático e concorrente número um dos americanos, com muito mais poder de fogo que o Brasil, respondeu com reciprocidade a Washington, dando início a uma inédita espiral de retaliações recíprocas. A atitude terminou por, na prática, bloquear perigosamente trocas comerciais.
Enquanto Brasília ferve em impasses internos e se prepara para o recesso parlamentar em pleno julho turbulento, o relógio de Trump segue contando. Faltam 14 dias até 1º de agosto — e os americanos ainda não responderam à carta enviada por Alckmin e Mauro Vieira em maio.
Fonte: r7.com