Projeto financiado por Itaipu para criação de subsistência está causando temor do setor produtivo por possíveis riscos sanitários à avicultura do Estado.
Um projeto que prevê a implantação de galinheiros comunitários em comunidades indígenas está gerando polêmica no Paraná. Enquanto defensores da ação ressaltam sua importância para a segurança alimentar dos povos indígenas, entidades ligadas ao agronegócio mostram preocupação com riscos sanitários para a avicultura paranaense.
A instalação dos galinheiros comunitários integra o projeto “Opaná: Chão Indígena”, desenvolvido pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD) em parceria com a Itaipu Binacional, por meio do programa Itaipu Mais que Energia. De acordo com a FLD, serão até 64 galinheiros, com 100 aves cada, totalizando 6,4 mil animais. A implantação está prevista para as regiões Oeste e Litoral do Estado e deve beneficiar 32 comunidades indígenas, onde já há criação de galinhas. Segundo informações da FLD, a construção de galinheiros já está em andamento nas comunidades Guarani do Oeste do Paraná.
As obras começaram no início de março e seguirão pelos próximos meses, “fortalecendo a segurança alimentar indígena, que é o objetivo principal da ação”, diz a entidade. Fazem parte da iniciativa 31 comunidades indígenas beneficiadas pelo acordo que prevê a compra, pela Itaipu, de 3 mil hectares de terras rurais em cinco municípios paranaenses do Oeste do Estado. Em entrevista à Globo Rural, Paulo Porto, gestor do Programa de Sustentabilidade Indígena da Itaipu, ressalta que são mais de 5 mil pessoas nas comunidades das Terras Indígenas Tekoha Guasu Guavira e Tekoha Guasu Okoy Jakutinga. “O projeto Opaná complementa essa ação de regularização das áreas, que hoje estão em litígio”, comenta. Ele explica que o projeto Opaná busca fortalecer a segurança alimentar por meio da implementação dos Sistemas Indígenas de Produção Agroecológica (SIPAs), que incluem outras opções à escolha das comunidades, como a criação de suínos, tanques de piscicultura, roçados e quintais produtivos – sendo todas as atividade agrícolas para subsistência. Preocupação O projeto que prevê a instalação dos galinheiros comunitários tem preocupado o setor produtivo. Por solicitação inicial do Sistema Faep, foi realizada uma reunião para definir o controle sanitário nessas unidades, na última segunda-feira (7/4), em Cascavel (PR).
Participaram representantes do projeto Opaná, da Adapar, Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Ministério da Agricultura e cooperativas agrícolas, entre outros. A Faep pediu a adoção de providências em razão dos riscos sanitários decorrentes da criação informal e de subsistência das aves. À Globo Rural, o presidente interino do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette, ressaltou que são preocupantes os fatos do projeto ser desenvolvido na região Oeste do Estado – polo da avicultura paranaense – e das áreas das comunidades indígenas serem espaços com acesso controlado de não indígenas, o que poderia dificultar a fiscalização. “A nossa preocupação sempre foi em relação à questão sanitária. Não podemos colocar em risco uma atividade na qual o Paraná é líder e que movimenta mais de R$ 40 bilhões por ano. Qualquer contaminação decorrente desses galinheiros comunitários poderia trazer impacto com prejuízos incalculáveis”, advertiu Meneguette. Segurança O gestor do Programa de Sustentabilidade Indígena da Itaipu, afirma que o projeto cumpre as regras fitossanitárias e deve contribuir para o controle sanitário avícola no Estado, uma vez que prevê o encarceramento de aves que atualmente estão soltas nas áreas apontadas. “Haverá um monitoramento constante e a garantia de todo o protocolo sanitário para eventual compra de aves”, ressalta Porto. A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) informou que está acompanhando “Estamos cadastrando os animais e fazendo o monitoramento das áreas, em alinhamento com os coordenadores do projeto, a fim de garantir a biosseguridade com relação à prevenção da gripe aviária e outras doenças”, afirma Rafael Gonçalves Dias, chefe do departamento de Saúde Animal da Adapar. Dias ressalta que os galinheiros comunitários serão voltados a criações de subsistência, ou seja, as aves, a carne e os ovos não serão comercializados, serão produzidos para consumo próprio.
Dessa maneira, o protocolo adotado pela Adapar segue o padrão para as propriedades que fazem esse tipo de criação, com cadastramento e monitoramento periódico. O órgão vê como ponto positivo a implantação dos equipamentos na região litorânea do Estado – área em que a Adapar está intensificando o monitoramento da gripe aviária -, uma vez que manterá um número maior de animais fechados nas instalações. A região tem sido monitorada por drones, tendo em vista a maior circulação de aves silvestres, o que aumenta o risco de uma possível transmissão da influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1). Nessa área, não deve ser autorizada a entrada de novas aves.
No Oeste, Dias observa que o monitoramento dos galinheiros comunitários também será constante tendo em vista que, junto com o Sudoeste, é a principal região produtora de frango do Estado. “Com uma produção avícola densa, a circulação da doença aumentaria os riscos de transmissão, com graves problemas de ordem sanitária e econômica para o Paraná”, adverte.
Fonte: avisite.com.br