O Brasil, maior produtor e exportador global de soja, está importando soja e arroz devido a uma alta nas cotações internas, mas não deve tomar medidas intervencionistas no mercado, disse o presidente Jair Bolsonaro a apoiadores, conforme vídeo publicado no final da noite de quarta-feira.
"Importamos 400 mil toneladas de arroz dos Estados Unidos. Estamos importando agora soja porque o preço está subindo. Se eu tabelar óleo de soja, vai deixar de ter na prateleira", afirmou, indicando que não intervirá no mercado.
Ele não falou em volumes de importações de soja ou origens específicas do produto, e o volume citado para o arroz é referente à cota completa para importações isentas de tarifas do Mercosul, após os preços atingirem recordes, como é o caso também da oleaginosa.
De janeiro a setembro, as importações de soja pelo Brasil já somaram 528 mil toneladas, conforme dados do governo, que apontam entre os fornecedores países do Mercosul, principalmente o Paraguai. Já as importações de arroz somaram no mesmo período 542 mil toneladas, também os paraguaios ofertando a maior parte (380 mil), seguidos pelos uruguaios (103 mil), enquanto as cargas compradas nos EUA estão a caminho.
Mas, desde que o país liberou importações de soja e milho sem tarifa de fora do Mercosul, aumentaram as especulações que os EUA pudessem ser fornecedores dos produtos. Compras dentro do Mercosul não pagam tarifas.[nL1N2HB29E]
"Fontes disseram que pelo menos uma carga de soja dos EUA foi vendida ao Brasil na semana passada, com embarque pelo Golfo dos EUA no final deste ano", citou a consultoria de agronegócio e serviços financeiros StoneX em nota aos clientes na quarta-feira.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) disse à Reuters que não pode confirmar se a soja norte-americana foi efetivamente vendida ao Brasil.
Mas André Nassar, presidente da entidade que reúne as principais tradings e processadoras, afirmou que alguns membros da associação confirmaram a existência de empresas tentando importar soja dos Estados Unidos para o Brasil.
"Disseram-me que a conta fecha", declarou Nassar em relação à possibilidade de o Brasil adquirir soja de seu grande rival nos mercados de exportação.
Ele advertiu, no entanto, que a importação dos EUA exigiria solução para a "questão de sincronia dos eventos transgênicos aprovados nos EUA e no Brasil", referindo-se a variedades norte-americanas da soja que não tiveram ainda aprovação pelos órgãos brasileiros.
As cargas de soja dos EUA seriam usadas para processamento interno no Brasil, que sofre com uma forte escassez após grandes exportações impulsionadas pela forte demanda da China e um câmbio favorável a embarques.
Dessa forma, o Brasil deve passar para a próxima safra, que começa a ser colhida em janeiro, com estoques praticamente zerados.
A soja é o principal produto de exportação do Brasil, que também tem forte demanda interna pela oleaginosa, tanto para a produção de ração quanto para a indústria de biodiesel. O processamento interno encarece em meio a preços recordes, acima de 160 reais por saca (base porto de Paranaguá-PR).
Fonte: Notícias Agrícolas